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The Tigers of Money - A Origem do Shark Tank

Poucos programas de TV conseguiram influenciar tanto o universo do entretenimento e do empreendedorismo como The Tigers of Money ou em japonês Manē no Tora (マネーの虎). Muito antes do Shark Tank se tornar um fenômeno global, era esse reality japonês que atraía milhões de telespectadores, combinando suspense, negócios e uma dose de drama humano. Neste artigo, vamos mergulhar de vez no "berço" do formato que mudou a maneira como o empreendedorismo é apresentado na televisão.

O que foi Manē no Tora?

Transmitido pela primeira vez em outubro de 2001, pela Nippon Television (日本テレビ), o programa revolucionou o gênero dos game shows no Japão. Diferente dos formatos tradicionais de entretenimento, que focavam em desafios físicos ou perguntas e respostas, Manē no Tora apostou em algo inédito: colocar empreendedores comuns frente a frente com investidores poderosos, em busca de apoio financeiro real.

O nome — literalmente "O Tigre do Dinheiro" — evocava força e instinto predatório, características associadas tanto ao mundo dos negócios quanto aos próprios investidores, conhecidos como os "Toras" (Tigres). O slogan era direto e provocador: "No Challenge, No Success" — um convite para que os participantes arriscassem tudo por seus sonhos.

O programa ficou no ar até março de 2004, totalizando mais de 100 episódios, e deixou uma marca profunda na cultura japonesa, servindo de inspiração para adaptações em diversos países, incluindo o popular Shark Tank.

Como funcionava o formato?

O funcionamento era simples, mas carregado de tensão: cada episódio apresentava de dois a três empreendedores, que tinham de apresentar suas ideias de negócio, produtos ou serviços a um fixo de investidores. Esses investidores, empresários de sucesso, tinham total liberdade para aceitar ou rejeitar a proposta. Não havia qualquer obrigação de financiar.

Para receber o investimento, o empreendedor precisava convencer os tigres a oferecerem o valor pedido, total ou parcialmente. Quando os investidores se interessavam, podiam também sugerir mudanças no modelo de negócio ou propor condições adicionais — o que, muitas vezes, transformava a negociação numa verdadeira batalha verbal.

Diferente de muitos reality shows, onde o foco é o entretenimento puro, Manē no Tora colocava a viabilidade comercial das propostas no centro do palco. E isso criava um ambiente onde esperança, risco e pragmatismo se cruzavam o tempo todo.

Quem foram os principais "Tigres"?

Um dos diferenciais de Manē no Tora estava justamente na escolha de seus investidores: todos figuras reais do mundo corporativo japonês, muitos deles excêntricos, outros discretos, mas invariavelmente bem-sucedidos.

Entre os mais icônicos, destacam-se:

  • Shinji Hattori: dono de uma cadeia de escolas de inglês, conhecido por seu estilo agressivo nas negociações.
  • Yoshihiro Terada: empresário do ramo alimentício, famoso por suas críticas diretas e impiedosas.
  • Hiroyuki Ariyoshi: investidor mais reservado, que costumava surpreender com decisões inesperadas.
  • Ritsuko Nagao: uma das poucas mulheres do , respeitada por seu olhar atento aos aspectos sociais dos projetos.

Cada um deles representava uma faceta distinta do mundo dos negócios no Japão, e suas interações com os candidatos eram parte essencial do apelo do programa.

Pitches memoráveis e invenções inusitadas

Ao longo de suas temporadas, The Tigers of Money recebeu centenas de propostas, algumas tão criativas quanto inviáveis, outras surpreendentemente visionárias.

Entre os pitches mais comentados:

O restaurante de robôs: um empreendedor apresentou a ideia de abrir um restaurante totalmente automatizado, onde os pedidos seriam feitos por meio de tablets e os pratos entregues por braços robóticos. Embora parecesse futurista demais para a época, o projeto chamou atenção pela ousadia, mas acabou rejeitado pela maioria dos investidores, que consideraram o custo inviável.

A máquina de fazer ramen instantâneo: um inventor propôs uma vending machine capaz de preparar e servir ramen fresco em menos de dois minutos. A ideia arrancou elogios pela praticidade e viabilidade e recebeu investimento parcial, com ajustes sugeridos para tornar o equipamento mais compacto.

Uma escola de etiqueta para adolescentes: inusitada, mas bastante pertinente, essa proposta buscava oferecer cursos extracurriculares para jovens aprenderem boas maneiras e habilidades sociais. Embora alguns tigres tenham achado a ideia antiquada, outros perceberam um nicho promissor e decidiram investir.

Um dos maiores sucessos do programa foi a proposta de uma rede de cafeterias orgânicas, que após receber o aporte solicitado, conseguiu expandir para diversas cidades japonesas e se manter ativa até hoje.

O impacto cultural e legado do programa

Mais do que apenas um show, Manē no Tora ajudou a popularizar o conceito de empreendedorismo no Japão. Antes dele, o ambiente empresarial japonês era muitas vezes associado a grandes corporações e carreiras dentro do modelo tradicional de emprego vitalício. O programa, ao colocar empreendedores individuais em destaque, ajudou a abrir espaço para uma nova visão: a do "self-made man", ou seja, aquele que constrói seu próprio caminho.

O formato também inovou ao expor a vulnerabilidade dos participantes: muitos deles apresentavam suas ideias não apenas como um negócio, mas como um sonho pessoal, revelando medos, frustrações e esperanças diante das câmeras. Esse aspecto humano, combinado com a crueza das respostas dos tigres, criou uma narrativa envolvente que transcendeu o simples entretenimento.

Exportação do formato: do Japão para o mundo

O sucesso de Manē no Tora chamou atenção internacional rapidamente. Sua fórmula foi adaptada para o "Dragons' Den" no Reino Unido e, posteriormente, para o "Shark Tank" nos Estados Unidos e em diversos outros países.

Curiosamente, enquanto o Japão associou seus investidores a tigres, no Reino Unido eles se tornaram dragões e, nos Estados Unidos, tubarões. Cada adaptação incorporou traços culturais específicos, mas a essência permaneceu a mesma: empreendedores em busca de investimento e investidores decidindo quem merece apoio.

Apesar de sua influência global, poucos sabem que o coração do Shark Tank pulsa com sotaque japonês — algo que até hoje impressiona os fãs mais atentos da franquia.

Por que Manē no Tora terminou?

Embora o programa fosse um sucesso, sua exibição foi encerrada em 2004. Há diversas especulações sobre os motivos: desgaste natural do formato, dificuldade em encontrar empreendedores suficientemente preparados, e até mesmo pressões do próprio mercado publicitário, que nem sempre via com bons olhos a exposição de negócios fracassados em horário nobre.

Ainda assim, sua curta trajetória deixou marcas profundas na televisão japonesa e global. O Manē no Tora pode ter saído do ar, mas sua influência permanece viva. Ele abriu portas, transformou carreiras e, acima de tudo, provou que boas ideias, quando bem apresentadas, podem encontrar quem acredite nelas.

Seja na figura de um tigre, dragão ou tubarão, o investidor predador é hoje uma presença consolidada na TV mundial graças à ousadia de um programa japonês que, há mais de duas décadas, decidiu apostar na combinação improvável entre negócios e entretenimento.